APRENDENDO COM UMA ALUNA

Autora: Ana Luiza Severino Rossi de Abreu Chagas

Este ano consegui observar um preconceito que eu possuía em relação aos alunos indisciplinados. Em razão dele, cheguei, internamente, a classificá-los, por sua postura na escola, como seres de índole ruim. Senti-me muito mal ao constatar-me portadora desse preconceito.

Na coordenação da monitoria, tenho a oportunidade de conviver com alunos de várias faixas etárias e, consequentemente, de diversas e variadas modalidades. E, foi vivendo uma importante experiência com uma aluna, que pude observar essa característica interna, até então, desconhecida por mim.

A aluna me parecia indisciplinada, um pouco bagunceira e descompromissada, e, por isso, não senti simpatia por ela, imediatamente. Falava-lhe apenas o necessário, considerando isso até natural, antes de descobrir em mim a tal característica. Mesmo assim, depois de alguns meses e inesperadamente, essa mesma aluna deu-me um abraço muito forte, dizendo-me que gostava de mim. Levei um susto e até fiquei meio sem graça. Naquele instante, desmoronou-se um muro de preconceitos que existiam em mim, despertando-se minha sensibilidade. Questionei-me sobre o porquê da pouca simpatia e não encontrei a resposta de imediato. Fui observando, porém, em outras oportunidades, os sorrisos e abraços espontâneos que dela recebia. As atitudes sensíveis dessa aluna despertaram a minha sensibilidade e moveram minha vontade no sentido de conhecer aquele mal em mim e, assim, ter condições de superar-me, neste aspecto.

Recordei-me, então, de um importante elemento da Pedagogia Logosófica: é preciso saber separar a pessoa de seus pensamentos. Faltava-me aplicá-lo e, em razão disso, acabava rotulando alguns de meus alunos. Trabalhando com o elemento em mim mesma, fui capaz de dar o primeiro passo para aproximar-me daquela aluna, podendo criar um verdadeiro vínculo afetivo e comprovando que, para bem realizar o processo de ensinar, é preciso ser humilde, lembrando que também posso aprender com meus alunos enquanto ensino.

O trabalho interno com a sensibilidade ganhou maior espaço, diminuindo o preconceito que existia em mim. Como fruto desse trabalho, de separar as pessoas de seus pensamentos, passei a ver meus alunos com outros olhos e, por conseguinte, pude conquistar sua amizade muito mais facilmente, estabelecendo com eles, mesmo com os de perfil indisciplinado, um vínculo afetivo que tem facilitado muito meu trabalho. Tive certeza disso quando, estando uma boa parte desses alunos ao redor de minha mesa, mantivemos uma conversa descontraída e bem animada, ao mesmo tempo em que eles, alegres, me ajudavam a desenvolver uma tarefa. Senti muita gratidão por aquela adolescente de quatorze anos que, com um gesto simples e nobre, evidenciou em mim, discretamente, uma limitação interna, ajudando-me a superá-la.

Nada é possível construir no bem se não se põe nesse empreendimento algo da própria vida; e esse algo deve estar representado no que mais calor dá a essa vida, que é o afeto a tudo o que existe na Criação e, em especial, aos semelhantes que afinam com os pensamentos e sentimentos.” (do livro Introdução ao conhecimento logosófico, pág. 244)

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