ENSINANDO AS CRIANÇAS SOBRE A EXISTÊNCIA DO MUNDO INTERNO

Autora: Adriléia Guelber

Dentro do projeto anual “Transformando o mundo a partir de si mesmo”, trabalhava com meus alunos do 3º Ano A sobre o conceito de ser melhor a cada dia, quando observei que seria necessário levar-lhes algo de minha própria vida para que pudessem realizar no interno, semelhante exercício.

Depois de pensar em como poderia ser eloquente e natural, recordei-me de algo que vivi e resolvi relatá-lo aos meus alunos.

O objetivo era fazer com que as crianças aprendessem a olhar para dentro de si mesmas. Contei-lhes com muito carinho o que eu tinha vivido e, depois, pedi-lhes para escrever sobre o que a professora havia falado e sobre o que cada um havia aprendido com a experiência da professora.

Eis o registro de uma aluna:

“Aprendendo a olhar para dentro – A xícara da docilidade

A professora Adriléia contou uma experiência em que pude aprender sobre a obediência.

Ela contou que, quando era jovem, adorava arrumar a casa! Certa vez, ela estava arrumando a cozinha, já estava tudo arrumado, quando pensou que em cima de um filtro de água, ficaria bonito colocar um enfeite. Foi ao armário de louças e pegou uma xícara linda, com um pires com uma bordinha dourada. Ela colocou a xícara bem na beiradinha da prateleira onde ficava o filtro e pensou: “É para todo mundo ver!”

No dia seguinte, antes de sair para trabalhar, foi à cozinha ver o filtro. A xícara continuava lá, mas estava mais atrás. Então, ela arrastou a xícara para frente de novo e saiu para o trabalho. No dia seguinte, a mesma coisa aconteceu. A xícara estava lá atrás e ela puxou-a para a frente novamente. No outro dia também, e no outro, e no outro e assim todos os dias seguintes. Ela sabia que era o avô que mudava a xícara de lugar, então falou: __ Que avô desobediente, teimoso, que coisa!

Depois de ter falado isso, ela pensou:

__ Será que é ele o desobediente, o teimoso, ou será que sou eu? A xícara é dele e ele ganhou de presente de casamento!

Desde então, ela passou a ser mais obediente, pois aprendeu com a situação.

Com essa experiência da professora, pude recordar de uma situação que vivi também e que pude aprender, a ser tolerante: Eu estava sentada em um lugar na sala, atrás de um menino que gostava de me incomodar. Todo dia eu me incomodava com ele. Até que um dia eu pensei: Por que me incomodar sempre, a cada segundo? Se eu parar de me incomodar, ele também irá parar, não?

Desde então, passei a ser mais tolerante, pois aprendi muito com essa situação.

As crianças ficaram muito felizes com a experiência e quiseram conhecer a “xícara da docilidade”. Então, tratei de levá-la no dia seguinte, para que a vissem.

Ocorreu então um momento muito inesperado e especial entre as crianças e a professora:

Um aluno perguntou se seu avô ainda era vivo. Ela disse-lhe que ele já havia falecido. Mas que tinha muitas lembranças dele. E que uma delas era que ele foi uma pessoa muito alegre. Outro, perguntou se sua avó estava viva. Confundindo-se, ela respondeu que ainda já havia morrido. Nesse momento houve uns risos singelos pela forma com que havia falado. Explicou-lhes, então, que, para ela, seus avós ainda viviam. Viviam intensamente em suas recordações, em suas atitudes que havia herdado deles; enfim, ainda viviam em sua mente e em seu coração. Foi uma fala emocionada que propiciou que as crianças experimentassem a grandeza do sentimento de amor dentro da própria vida.

O trabalho de enxergar o mundo interno buscando aperfeiçoá-lo no dia a dia, continuou sendo realizado com as crianças, que expuseram na Mostra de Conhecimentos do Colégio o que aprenderam a esse respeito.

Internamente, emocionei-me com a repercussão dessa experiência na vida de meus alunos. Pude apalpar o anelo puro e sincero que existe nas crianças de querer aprender, ser melhores e mais felizes.

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