APRENDENDO A CONHECER A SI MESMO

Autora: Thaís Alencar

Relato de Experiência: Humor Negro – Bullying

“Não se pode ensinar o que se sabe se, ao fazê-lo, não vai refletida – como uma garantia do saber – a segurança que cada um deve dar com seu próprio exemplo.” (Da Logosofia)

Se observarmos a história do pensamento humano, percebemos que desde os tempos antigos já se falava do autoconhecimento. Na Grécia antiga, o filósofo Sócrates e seu discípulo Platão levantaram a bandeira do “Conhece-te a ti mesmo”. Já na era contemporânea, vemos este pensamento ecoar nos discursos do filósofo francês Paul-Michel Foucault sobre o cuidado do próprio ser. Simultaneamente, vemos o pensador, humanista e criador da Logosofia, o argentino Carlos Bernardo González Pecotche apresentar uma nova ciência que baseia no conhecimento de si mesmo seu conceito de vida e de homem.

O conhecimento logosófico revela que somente através da análise de nosso mundo interno é possível modificar a relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo. A Pedagogia Logosófica, isto é, o sistema pedagógico que descende dos ensinamentos da Ciência Logosófica, tem como um de seus pilares as considerações sobre o conhecimento de si mesmo. O educador, para disseminar o conhecimento e auxiliar seus discípulos em suas descobertas, deve, ele também, buscar sempre se autoavaliar e se modificar. É através do exemplo que os alunos encontram no professor a segurança necessária para também modificarem a si mesmos.

Recentemente, em sala, vivenciei uma experiência que exemplifica esta aplicação da Pedagogia Logosófica. Em uma turma de adolescentes, estávamos estudando sobre o humor em charges e narrativas. Ao nos depararmos com o conceito de humor negro, um pequeno debate surgiu. Alguns alunos diziam que é muito complicado nos dias de hoje fazer piadas, “porque tudo é errado e há uma patrulha do politicamente correto fiscalizando”. Observei então que meus alunos não compreendiam a diferença entre humor e desrespeito, porque eles não conseguiam se projetar no papel do outro. Faltava-lhes empatia.

Narrei-lhes então alguns exemplos de piadas com personagens de minorias, comuns na minha infância, falas estas que eu mesma reproduzia sem compreender, nos anos 1980 e 1990. Eles se mostraram chocados com o mau gosto delas. Contei que nos programas de televisão era comum assistir a essas piadas reproduzidas e, assim, a ridicularização do negro, da mulher, do nordestino, dentre outros, se perpetuava na mídia de forma humilhante e com aceitação da sociedade da época. Perguntei-lhes como se sentiriam se eles fossem membros de um desses grupos. Mostrei-lhes como e quando eu comecei a me incomodar com esses eventos infortunados e como foi importante para mim perceber o quão errada eu estava, ainda que inconscientemente, sendo preconceituosa.

Alguns alunos então começaram a narrar eventos em que eles também reproduziram falas de racismo e/ou outras formas de preconceito com humor negro, projetando a conversa para a questão do bullying, na Escola. Foi uma vivência muito madura e eu me senti muito feliz ao perceber a evolução do pensamento da sociedade como um todo (e a minha também) e ao ver compreendidos e consolidados naqueles jovenzinhos valores muito importantes, de respeito e tolerância. Foi então que eles também perceberam que ser politicamente correto não é ser chato, mas ser justo e correto.

Conhecer a si mesmo, tanto na prática pedagógica quanto na vida pessoal, está intrinsecamente ligado ao reconhecimento de nossas deficiências e à necessidade constante de melhoramento individual. Se eu, docente, conseguir mostrar para meus alunos a importância desta prática e, indo além, demonstrar na prática o valor da transformação motivada pela consciência de minha limitação, estarei de fato contribuindo para a formação de melhores indivíduos para a humanidade.

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